PARA DANÇAR EM SILÊNCIO

O pai da artista plástica Martha Barros – o poeta Manoel de Barros – certa vez escreveu: "imagens são palavras que nos faltaram". Como recorrer às palavras, então, quando estamos diante de imagens que nos fazem sonhar acordados? Que nos atraem e nos convidam a mergulhar num universo de cores, formas, movimentos, sentidos e sons? Seria mesmo necessário falar? Eu, particularmente, depois de olhar as pinturas da Martha e passar um tempo em silêncio com elas, sinto vontade de dançar. De celebrar. De cair na folia. De ser um desses seres que pulam, rolam, se embolam, rodopiam, esticam, encolhem e partem em revoada pelos ares, mares e terras longínquas da tela. Nas telas da Martha podemos descansar de nós e nos divertir sendo outros. Esse é o mundo da artista desde que a conheci. Um mundo de silêncio e festa. Um mundo onde as imagens não competem com as palavras. Um mundo lúdico onde a brincadeira se impõe para desorganizar o que tentamos ordenar. E depois – ou antes - da bagunça boa, novamente o silêncio que renova, recarrega e alimenta. A natureza tão exuberante quanto bruta com a qual Martha convive desde que nasceu está presente nas composições elaboradas por ela. Está presente também o convívio com a artesanía da construção poética, do escrever e apagar, da busca pela síntese perfeita. Tudo isso está nas telas. E, claro, muito mais: a experiência de uma vida, com suas alegrias, dissabores e a sabedoria de escolher as tintas com as quais iremos pintá-la. Uma obra aberta para infâncias de todas as idades.
(Bianca Ramoneda)

"Seus pequenos personagens ora lembram animais, ora plantas, ou as duas coisas juntas. As cores que usa são transparentes e, muitas vezes, deixam ver desenhos preexistentes nos tecidos que ela escolhe como suporte. É uma artista envolvente com seu trabalho, perspicaz, sensível e inteligente".
(Luiz Áquilla)

 "O amor do detalhe e a compreensão da estrutura pulsam nos quadros desta pintora e, de tal forma, que nos leva a perceber a visibilidade do invisível".
(John Nicholson)

 

Carioca, com raízes em Campo Grande (MS), Martha Barros é formada em Biblioteconomia mas foi na pintura que a artista encontrou sua verdadeira fonte de inspiração. Cursou o atelier de Hélio Rodrigues e freqüentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde estudou com mestres do naipe de João Magalhães, Gianguido Bonfanti, Charles Watson, John Nicholson e Anna Bella Geiger.

Participou de inúmeras individuais e coletivas no Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia e Mato Grosso do Sul. Entre as capas de livros por ela assinadas, destacam-se "Seu sexto sentido", de Belleruth Napastedk, "A flauta vertebral", de Luiz Roberto Nascimento Silva, e "O poder do fluxo", de Charlene Berlitz e Meg Lundstorm (todos pela Editora Rocco), e ainda, "Filandras", de Adélia Prado (Editora Record) e "O descobrimento do mundo", CD com texto de Clarice Lispector, na voz de Aracy Balabanian (Editora Luz da Cidade).

Filha do poeta matogrossense Manoel de Barros, um dos maiores em atividade, Martha herdou do pai o lirismo e o gosto pelas coisas pequenas, e vem colocando suas preciosas ilustrações na obra do pai.  Mas, a artista, que busca a liberdade do imaginário e do inconsciente, tal como Kandinsky, Paul Klee, Miró e Chagall, seguiu uma trajetória própria no universo das artes visuais.

A obra de Martha Barros é influenciada pelo mundo dos homens, dos animais e das plantas, em comunhão com a natureza. Sua linguagem, artesanalmente construída, está sempre em busca de uma simplicidade que se abastece na infância e bebe na fonte do ser.  São imagens ignorantes do mundo moderno e de suas tecnologias mas, ao mesmo tempo, totalmente carregadas da inocência, que é exatamente onde o ser busca as suas raízes.

Em suas belíssimas "iluminuras", Martha  utiliza texturas e materiais diversos, que vão desde o papel e passam por tecidos, rendas e trapos aplicados à técnica de tinta acrílica sobre tela. O resultado é um trabalho espontâneo de cores e grafismos, direto e singelo.

Martha expõe o primitivo esteticamente, inspirando-se em pinturas rupestres e desenhos infantis, buscando, sempre, um traço livre e fluido. Não por acaso, sua obra vem ganhando elogios de destacados artistas brasileiros.